
A ação alega que a cessão gratuita de camarotes no Pátio de Eventos Luiz Gonzaga ocorreu sem justificativa de interesse público (Foto: Elvis Edson/Secom/PMC)
O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) ajuizou, em
15 de abril de 2025, uma Ação Civil Pública por improbidade
administrativa contra Hérlon de Figueiredo Cavalcanti, presidente da
Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru, no Agreste do estado. A ação é
motivada pela cessão gratuita de camarotes públicos durante os festejos do
São João 2024, o que teria causado prejuízo de R$ 744.810,99 aos cofres
públicos.
Segundo o MPPE, a cessão ocorreu sem instauração de
procedimento administrativo, justificativa de interesse público ou
contrapartida financeira, configurando renúncia indevida de receita
pública e desrespeito aos princípios da legalidade e da transparência.
Camarotes cedidos a órgãos públicos e instituições
A Fundação informou que os camarotes institucionais foram
cedidos gratuitamente a diversas instituições, incluindo:
- Prefeitura
de Caruaru
- Governo
de Pernambuco
- Tribunal
de Justiça de Pernambuco (TJPE)
- Ministério
Público de Pernambuco (MPPE)
- Associação
dos Magistrados de Pernambuco (Amepe)
- Justiça
Federal
- Polícia
Militar
- Polícia
Civil
- Corpo
de Bombeiros
- Câmara
de Vereadores de Caruaru
No entanto, de acordo com a ação, não houve qualquer
processo seletivo, ato formal ou contrato que legitimasse a cessão desses
espaços públicos, localizados no Pátio de Eventos Luiz Gonzaga,
principal polo das festividades juninas da cidade.
Contradição com arrecadação esperada em pregão eletrônico
A própria Fundação de Cultura promoveu um pregão
eletrônico para a exploração onerosa de 4 mil m² de área pública, com arrecadação
mínima estimada em R$ 936 mil, demonstrando, segundo o MPPE, que havia valor
comercial relevante na ocupação desses espaços. O promotor Marcus
Alexandre Tieppo Rodrigues, autor da ação, afirma que áreas de dimensão
e finalidade semelhantes foram cedidas gratuitamente, violando o dever de
zelo com o dinheiro público.
Ignorância à recomendação do MPPE e omissão na prestação
de contas
Durante o inquérito, o MPPE enviou recomendação formal
para que a cessão de áreas públicas fosse submetida a processo licitatório,
o que não foi cumprido. O documento foi encaminhado à Controladoria
Geral do Município, Procuradoria, Fundação de Cultura e Gabinete do Prefeito.
Ainda assim, o presidente da Fundação ignorou a orientação e não
prestou contas da destinação dos camarotes.
“[Hérlon] assumiu o risco de deixar de incluir os camarotes
institucionais no processo licitatório, violando o dever de cuidado com a coisa
pública”, afirma o promotor, ao destacar que o gestor foi responsável pela
elaboração do Estudo Técnico Preliminar, Termo de Referência e Edital
da licitação de exploração de espaços.
Penalidades solicitadas pelo MPPE
Na Ação Civil Pública, o Ministério Público de Pernambuco
solicita:
- Ressarcimento
integral do dano ao erário (R$ 744.810,99);
- Perda
dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio (caso haja);
- Suspensão
dos direitos políticos de Hérlon por 12 anos;
- Pagamento
de multa civil no valor equivalente ao dano causado;
- Proibição
de contratar com o poder público ou receber benefícios fiscais por até 12
anos.
Do total do prejuízo, cerca de R$ 393.810,99 foram
gastos com estrutura física dos camarotes, sem qualquer retorno
financeiro.
Prefeitura de Caruaru não se pronunciou
A reportagem procurou a Prefeitura de Caruaru, mas não
obteve resposta até a publicação desta matéria. O caso segue em tramitação
e aguarda decisão judicial.
Conclusão: caso expõe fragilidades na gestão de recursos
públicos em eventos culturais
A denúncia levanta questões graves sobre gestão de
recursos públicos durante grandes eventos, especialmente em cidades que
movimentam milhões em festividades populares como o São João de Caruaru. A ação
do MPPE reforça a necessidade de transparência, controle administrativo e
responsabilidade na destinação de bens públicos, mesmo quando se trata de
parcerias institucionais.